Neste artigo, Renata Truzzi, diretora de impacto e operações da NESsT, compartilha suas reflexões sobre o Impact Minds: Collective Makers 2025, da Latimpacto, combinando suas próprias ideias com vozes e histórias do evento, mostrando como a ação coletiva, o conhecimento ancestral e as abordagens lideradas pela comunidade estão moldando o futuro do investimento de impacto. [Publicado originalmente no LinkedIn]
O que dizer desses dias incríveis e altamente inspiradores na Latimpacto Conference – Impact Minds 2025?
Equipe da NESsT na Impact Minds: Criadores Coletivos 2025
Foram altamente inspiradores porque nesses momentos nos encontramos com pessoas cujas missões se alinham com a nossa. Encontros que nos fortalecem, pois às vezes esquecemos que o futuro é coletivo.
Inspirador porque conseguimos ver os avanços no campo de investimento de impacto no qual a NESsT é uma das organizações pioneiras. Podemos dizer que quando começamos, há quase 30 anos, pouco se sabia sobre os resultados das ações de impacto social e ambiental que estávamos propondo com nossos investimentos. A motivação de muitos de nós era diminuir os impactos negativos que o sistema capitalista estava trazendo para nossas comunidades e para o nosso planeta. Hoje já podemos dizer, medir, provar e contar a história de que prevenir é realmente melhor, e mais barato, do que remediar.
Volto desse encontro com emoções misturadas.
Por um lado, conseguimos sim ver os avanços e celebrá-los junto a parceiros e amigos do ecossistema - Latimpacto, Conexsus - Instituto Conexões Sustentáveis, Sitawi Finance for Good, ARTEMISIA Brasil, Conservation International, Yunus Negócios Sociais, Vanda Witoto, Karim Harji , Whole Foods Market Foundation , Inter-American Development Bank, IKEA Social Entrepreneurship, Rachel Añón , ZIGLA e tantos outros.
Impact Minds: Collective Makers 2025
Por outro lado, me incomoda um pouco às vezes repetirmos as hipóteses que tínhamos há 30 anos: não há pipeline de negócios para investimentos na Amazonia, ou em negócios sociais liderados pela comunidade. Obviamente estamos focando no lado errado dessa história. Ainda chegamos às comunidades de cima pra baixo, numa visão colonialista de que temos as soluções e eles o problema, quando somos nós mesmos que criamos os problemas que hoje tentamos solucionar com nossos investimentos.
É preciso que mais investidores tradicionais e de impacto mudem suas estratégias e adaptem suas práticas para que uma mudança de maior alcance aconteça. As comunidades, por exemplo as rurais e ribeirinhas da Amazonia, tem as respostas e não precisam de mais questionamentos. Quando entendermos que nós é que temos o que aprender ao invés de achar que só temos a ensinar, a mudança será natural e permanente. Lutamos por um mundo onde o impacto social não seja um capítulo a parte do capitalismo, mas sim algo intrínseco e inegociável dos modelos de negócios do futuro. Investidores deveriam estar atentos que não há mais espaço para se investir em destruição da floresta ou modelos de negócios que escravizam pessoas – só para citar alguns dos problemas mais graves que enfrentamos. Lutamos por um mundo onde qualquer investidor (e não somente os presentes na Conferência) estará preocupado com impacto e essa palavrinha anexa impacto” não precise mais se destacar.
Essas ideias e outras foram ilustradas de forma contundente durante o Impact Minds 2025, por meio de histórias e insights compartilhados pelos participantes. Abaixo, compartilho alguns exemplos reais e depoimentos do evento que dão vida a essas ideias.
Leonardo Letelier da Sitawi Finance for Good nos conta que “Na Sitawi, praticamos o conceito Capital Empático: usar as finanças para apoiar, respeitar e caminhar com quem está na ponta. Um exemplo é a CooperSapó, cooperativa de agricultores de guaraná no Amazonas, que também faz parte do Portfolio NESsT no Brasil. Quando enfrentaram dificuldades financeiras e até uma quebra de safra, não bastava cobrar a dívida. Foi preciso renegociar prazos, reduzir custos, oferecer apoio técnico e até organizar treinamentos em Excel para fortalecer a gestão financeira da própria cooperativa e de outras da região. Esse é o tipo de atitude que revela o verdadeiro poder do Capital Empático.”
María Carolina Suarez Visbal, CEO da Latimpacto, compartilha: “Vamos pedir mais e questionar menos. Todos nós somos catalisadores da mudança.”
Como disse María Carolina Suarez Visbal: “Que preguntemos mas y questionemos menos. Somos todos catalisadores de cambio”. Ou como Catalina Herrera Jaramillo nos disse sobre a responsabilidade também de medirmos e comunicarmos o nosso impacto: “Dados podem ser tanto construtivos quanto destrutivos. Temos que hacer las preguntas corretas. Ser mais críticos. As palavras constroem realidades”.
Ao trazer para a mesa de discussões sobre Bancos de Desenvolvimento somente mulheres, Carolina foi brilhante pois a outra mensagem que precisamos reforçar diariamente no mundo dos investimentos de impacto é “Nunca mais sobre nós sem nós”. Ou seja, não podemos investir em comunidades indígenas sem ter indígenas na tomada de decisão; ou investir em negócios de populações negras, por meio de um comite de investimento 100% branco; ou dizer que temos lentes de gênero em nossos investimentos e não olhar para nossas próprias equipes e equalizar oportunidades e remuneração.
Alejandra Ramírez, diretora país, NESsT Colômbia, fala no painel “Inovar para regenerar: capital transformador para a América Latina”.
Como nos questiona Karim Harji , como fazer mudança sistêmica com instrumentos financeiros que duram 3 ou 5 anos? “Mudança sistêmica exige paciência e tempo. O que estamos fazendo em Impact Investing deveria ser ponto de partida e não de chegada. Deveria ser o padrão. Chegar lá exigirá ação coletiva - não apenas dentro de nossas próprias áreas, mas através dos papéis institucionais que desempenhamos e das inovações emergentes que precisamos promover juntos."
Nossa diretora na Colômbia, Diana Alejandra Ramirez Loaiza , nos mostrou que os negócios da comunidade estão fazendo regeneracao há muito tempo, só não sabiam que o que faziam tinha esse nome. 6 empresas do Portfolio NESsT Colômbia estão praticando regeneração e como mencionei antes, nós é que estamos aprendendo.
“As mulheres desse portfolio trazem uma visão mais ampla de todo o impacto social e ambiental que seus negócios trazem para a comunidade. Mulheres trazem o conhecimento ancestral e processos inovadores, sem saber que nome davam a isso. Regeneração é uma tarefa coletiva!”
Nossos parceiros e amigos da Conexsus - Instituto Conexões Sustentáveis, Emanuelli Caselli e Pedro Frizo, nos lembram que os programas governamentais não chegam às comunidades e por isso fizeram um grande mapeamento envolvendo diferentes países da Amazônia o qual servirá de base para o trabalho do programa AmazonBeEco, do qual a NESsT Peru faz parte.
Ricardo Díaz apresenta o projeto AmazonBeEco no painel “Socio-Bioeconomia Pan-Amazônica: Construindo uma Agenda de Coordenação Regional com Base no Mapeamento do Ecossistema Comunitário no Brasil, Colômbia, Guiana, Equador, Peru e Suriname”
Ricardo Díaz Hart , nosso líder de Aceleracao apresenta o enorme potencial dos negócios comunitários, mas também as barreiras que enfrentam. Reforça a mensagem da Conexsus ao dizer que o mapeamento no Peru tb mostrou que o sistema regulatório e a maioria dos instrumentos financeiros sao pouco alinhados à realidade dos negócios da Amazônia. Das empresas mapeadas pela NESsT Peru, 66% tem liderança indígena e 44% tem atividades de gênero.
Todos esses exemplos são excelentes aprendizados os quais deveriam ser replicados. Como furar a bolha e deixar de falar somente para convertidos, então?
Vanda Witoto fala no Impact Minds: Collective Makers 2025
Nesse sentido, acredito que a Conservation International caminha a passos largos. Liderando a Rede PanAmazonica, desde 2023, da qual NESsT é parceira, Rachel Biderman nos indica que uma solução bem simples, porém altamente impactante, seria os investidores deixarem de apoiar economias de destruição. E questiona: “Qual é a solução mágica para saltarmos da dependência da filantropia para maior arrecadação de investimentos para a Amazônia?”
Finalmente, destaco as citações de Ticiana Rolim Queiroz “Descobrimos que potencializar comunidades é algo a ser feito com eles e não para eles.”, e Vanda Witoto “A natureza nos ensina a ser coletivo e compartilhar. Precisamos acessar uma outra forma de IA – a inteligência ancestral”. Por isso esses encontros são tão potentes, pois nos lembramos da potência do coletivo e, já sabemos, o futuro é ancestral e coletivo!
“Me llevo aprendizajes valiosos, conexiones poderosas y la certeza de que el impacto solo se logra cuando trabajamos juntos, con visión de largo plazo y compromiso real.”
Obrigada equipe Latimpacto - Caro, Pedro Telles e equipe - por esse banho de impacto positivo.
*A frase "o futuro é ancestral" foi popularizada pelo líder indígena, ambientalista e filósofo brasileiro Ailton Krenak, que a utiliza como título e tema central do seu livro "Futuro Ancestral", publicado em 2022.